#29: Avistando o topo da montanha
Eu já enxergo o topo da montanha. Mas ao mesmo tempo, percebo que pra chegar nele ainda falta bastante. Demandando uma energia que confesso que já não sei mais de onde tirar.
Perto, cada vez mais perto.
37 semanas e 4 dias. Estamos quase lá.
E nesse momento, achei que valia a pena abordar e registrar alguns dos tópicos principais que tem me ocupado nessa reta final. De maneira vulnerável e honesta, como sempre.
1. O cansaço e o medo (sim, ele ainda existe)
Eu já enxergo o topo da montanha.
Mas ao mesmo tempo, percebo que pra chegar nele ainda falta bastante. Demandando uma energia que confesso que já não sei mais de onde tirar.
Eu tô cansada. Física e emocionalmente.
Quarta-feira tive uma crise de choro. Começou com uma bobagem, evoluiu para um choro um tanto quanto descontrolado "sem motivo". E aí me dei conta o quanto que estou cansada. Cansada principalmente de falar pra mim mesma, todos os dias, que vai dar certo. A dor das minhas duas primeiras perdas segue presente, e é ela que me faz ter que fazer um esforço adicional muito grande para ficar positiva. Essa é uma consequência que as mães que passam por perdas enfrentam e que é muita dura. Perdemos a ingenuidade. Sabemos que nem sempre as gestações evoluem “como tem que ser". Já passamos por isso. Por isso, estamos sempre alertas. Por vezes, desconfiadas. Outras, com medo.
Acho que agora, no fim e com os hormônios mais à flor da pele do que nunca, eu percebo todo o esforço que foi essa gestação. Um esforço para pensar sempre positivo, para não ficar presa no trauma, para acreditar, para não transmitir nada de ruim para a minha bebê.
Algumas pessoas já me disseram, provavelmente com razão, que eu só vou ficar tranquila de verdade quando minha filha estiver no meu colo.
E isso tudo é um pouco ambíguo, porque na maior parte do tempo, pelo menos a partir do segundo trimestre, eu me senti tranquila. Com uma certa leveza. Às vezes ficava e ainda fico um pouco angustiada com a questão do monitoramento dos movimentos dela - se ela não mexe por um período de tempo, eu fico ansiosa, mas tento encontrar caminhos para lidar com essa ansiedade.
Sempre conversei muito com a barriga, rezei, meditei, fiz cartas para a Felipa. Estar conectada com ela e comigo ao mesmo tempo foi prioridade. E acho que isso ajudou demais. Mas não apagou o meu histórico.
E esse histórico faz com que, volta e meia, o medo ainda apareça. Medo de acontecer algo com ela aqui na minha barriga. Medo de perder o que já ganhei.
Esse medo é o preço que eu ainda pago por ter algo tão precioso comigo. Mães e pais da minha rede já me disseram que esse medo sempre está presente, desde que o filho nasce. Talvez a diferença no meu caso, e de outras mães de anjo, é que já tenho a presença desse medo mesmo antes do nascimento.
Mas tudo bem. Se esse é o preço que eu tenho que pagar, eu pago.
No fundo, bem no fundinho, eu acredito de verdade que vai ficar tudo bem. Fico projetando o momento apocalíptico de quando minha filha virá pro meu colo. Pro meu seio. De quando vamos nos olhar, olho no olho, pela primeira vez.
2. Tudo pronto - menos a "licença" maternidade.
Está tudo pronto. Quarto dela finalizado e lindo, roupinhas organizadas e categorizadas (e se não viu, confira esse post no meu Instagram, onde mostramos todos os detalhes desse quartinho lindo projetado pela Arqsoft).

A casa também está organizada, o freezer está cheio e tudo está em seu lugar (pelo menos por enquanto - sabemos que o puerpério deve mudar tudo isso rsrs). Nossas malas estão prontas - a dela, com todas as roupinhas escolhidas com todo o cuidado e carinho, e a minha e do meu marido, com roupas confortáveis para vivermos os dias de hospital e todos os apetrechos de higiene para uma mamãe recém parida - sutiãs de amamentação, rosquinhas, absorventes de seios, calcinhas descartáveis.
O pai dela terminou no último domingo o seu maior projeto do ano no trabalho, o Acampamento Farroupilha, que durou 20 intensos dias. Estávamos em dúvida se ela esperaria ele terminar, e ela esperou.
Já a mamãe aqui se propôs a trabalhar até o final do mês, dia 30. Vamos ver se ela vai me esperar também. Estou um pouco arrependida desse compromisso, confesso.
Comprometida que sou, não quis deixar ninguém na mão.
No meu trabalho de executiva part time, como COO da The CMOs, tinha várias coisas para entregar nessa reta final, incluindo a nova marca da empresa. Algumas entrevistas e contratações para fazer. Além disso, tinha alguns pacotes de mentoria que eu queria terminar.
No início dessa semana, na segunda, eu comecei a sentir contrações de treinamento. Até então não estava sentindo. E comecei também a me sentir cada vez mais cansada. Mesmo um pouco arrependida de ter me comprometido até dia 30, não quis voltar atrás. Essa sou eu. Ainda tenho resquícios da vida workaholic rsrs. E também odeio deixar coisas inacabadas.
Então, acho que no fim do dia, se trabalhar até o dia 30 for significar eu ficar mais em paz com todas as entregas profissionais, talvez valha a pena - isso se a minha nova chefa, Felipa, concordar com isso e topar esperar até lá também.
Esse ano foi mesmo bem especial e cheio de mudanças e de gestações.
Descobri que estava grávida em janeiro. Estou o ano todo grávida.
E além da gestação da minha filha, gestei no mesmo período outros filhos e projetos, também.
Gestei principalmente um novo estilo de vida e um novo caminho profissional.
Descobri um caminho para trabalhar como executiva as a service, atuando part time como COO (Chief Operating Officer) da The CMOs. Comecei a trabalhar com mentorias, principalmente na eMentor.br e a partir da minha rede de relacionamento, fiz um rebranding da minha newsletter Somos Nós por Paola Z. Behs (que vocês acompanharam aqui no texto #27: Somos Nós) e lancei minha marca de consultoria e mentoria, a PZB Mentoria e Consultoria.
Com isso tudo, eu abri mão de um emprego CLT com carteira assinada e benefícios, entre eles o da licença maternidade.
Entrei no mundo da vida autônoma, dos solopreneurs.
E confesso que tem sido difícil projetar esse meu período de "licença maternidade". Meu marido é CEO da própria empresa também, e nosso acordo é que ele seja um pai participativo e envolvido em todas as necessidades da nossa filha. Deve fazer mais home office e ficar conosco em casa nos primeiros meses.
Nós dois temos o perfil bastante planejador e controlador.
Mas ao mesmo tempo, não conseguimos definir muita coisa da nossa rotina e dia a dia antes da nossa filha nascer. Antes de conhecê-la e entendermos na prática as suas prioridades. Ela vai ser P0, isso é certo.
Mas como administrar os P1s e P2s da vida autônoma?
(para quem não conhece, P0 significa prioridade zero, a principal, P1 seria a próxima prioridade depois da P0, P2 a seguinte e assim por diante. são expressões bastante usadas no mundo corporativo).
Nos organizamos financeiramente para que, por alguns meses, eu não me sinta pressionada a voltar a trabalhar.
Mas ainda assim, como esse mundo de trabalho autônomo ainda é muito novo pra mim, estou me questionando algumas coisas:
1. Será que eu fecho o Linkedin completamente e fico sem abrir até "voltar"? Ou entro de vez em quando para me atualizar?
2. Será que saio de grupos profissionais no whats?
3. Será que respondo contatos e mensagens profissionais em geral que eu venha a receber? O whatsapp hoje em dia é um pouco "invasivo", na minha visão, e as pessoas conseguem nos acessar facilmente. Eu prefiro contato por email e via linkedin, mas na maior parte das vezes não consigo controlar isso.
Confesso que estou achando difícil "abandonar tudo", já que essa construção tem sido tão única e também tão batalhada. Ao mesmo tempo, quero estar disponível e presente ao máximo com e para a minha filha, sabendo o quanto lutei por ela. Acho que vocês que me lêem sabem, também, né?
Levantei essa discussão no próprio Linkedin, e tive algumas respostas interessantes acolhedoras de mulheres que já passaram por isso - confira aqui se quiser.
De maneira geral, elas corroboram o que eu já vinha pensando: não adianta eu prever e querer planejar todos os detalhes antes da Felipa estar entre nós.
Preciso seguir no aprendizado, que tem sido o principal desde meus lutos, a controlar menos e a me entregar mais. A ir e confiar no fluxo.
Pode ser que eu tenha zero vontade e disposição de ver qualquer coisa profissional nos primeiros meses, mas também pode ser que eu queira seguir com algumas interações profissionais para abordar e "viver" outros assuntos além da maternidade. Não sei.
Mas suspeito que eu vou querer escrever sobre tudo isso. E a ideia é manter essa newsletter ativa, dividindo com vocês como eu e a Felipa estaremos nos adaptando a nossa nova vida. Espero que eu consiga.
3. O misto de "quero parir" com "eu amo a minha barriga".
Ontem tivemos a nossa última eco. Nossa bebezona está com 3,4 kg e 49 cm, com 37 semanas e 3 dias, no percentil 75-90.
Ela está pronta, gente!

Em função da minha cirurgia de retirada do mioma ano passado, que é recente, eu não posso ter parto normal, pelo risco de rotura uterina. Além disso, Felipa está sentada - brinco que ela está querendo evitar a fadiga e nem se deu o trabalho de ficar de cabeça para baixo, o que não facilitaria um parto normal, mesmo que eu quisesse.
A partir de agora, ela pode vir a qualquer momento e eu posso entrar em trabalho de parto. E estamos com a cesárea agendada para a semana 39. Não vou divulgar a data, mas queria compartilhar com vocês algo super emblemático. Isso aqui:
Essa é a história da nossa família. De 2022 a 2024.
Em 2 anos, foi uma montanha muito, muito alta que escalamos.
Estamos chegando ao topo.
Eu nem acredito.
Em poucos dias, vou oficialmente conhecer a minha filha. Olhar no olho. Sentir a sua pele e seu cheirinho.
Não sei se ela vai esperar até essa data agendada, ou vai querer vir antes. Por um lado, eu queria que ela decidisse. Que ela desencadeasse o trabalho de parto. Que a escolha fosse dela. Mas, se isso não acontecer, estou em paz com o agendamento pois nosso limite são as 39 semanas. Em função da trombofilia, não é recomendado que passemos disso. É mais seguro para mim e para ela. É isso que mais importa.
E por incrível que pareça, eu não estou ansiosa com o nascimento em si. Eu sinto que já sentirei saudades da barriga. De sermos duas em uma. Dos chutinhos e dos nossos momentos de interação subjetiva. Também sentirei falta da maneira tão especial que eu tenho sido tratada em qualquer lugar que eu vou como grávida. Recebo sorrisos de estranhos. Recebo muita luz e energia boa.
Ou seja, tenho aí mais uma ambiguidade: ao mesmo tempo que sinto que só ficarei tranquila quando ela estiver aqui, no meu colo, como falei no início do texto, eu sei que sentirei saudades de ter ela aqui dentro, também, e quero conseguir curtir muito esse finalzinho, mesmo com todo o cansaço.
E eu me sinto linda. Nunca me senti tanto, mesmo com essa barrigona.
Tanto que tive um pequeno surto uns dias atrás e resolvi fazer mais um ensaio gestacional, já com 36 semanas. Em 3 dias, conseguir organizar fotógrafa, produção, looks, agenda minha e do marido.
Eu queria muito registrar uma vez mais como foi essa gestação. E eu queria poder mostrar para a Felipa no futuro como a mãe dela estava feliz e radiante com essa espera.



Filha, a mamãe é humana e tem alguns medos ainda, sim. Eles fazem parte da nossa história e da vida. Mas estou pronta. E acho que tu também estás.
Pode vir, quando tu quiseres. Como eu escrevi no texto #23: o tempo não é mais meu, é dela, o tempo não é mais meu, ele é teu. Tu é e sempre será a minha maior prioridade.
Meus queridos leitores e ouvintes, assim que a minha nova chefa permitir, eu pretendo voltar aqui e contar tudo das nossas novas aventuras.
Sei o quanto vocês torceram por nós e isso fez TODA a diferença. Não sei se a gente já estaria quase chegando no topo da montanha se não fossem vocês todos nos empurrando.
Nos aguardem. Seguiremos juntos, vivendo, aprendendo, compartilhando. Sendo Nós.
A próxima vez que eu escrever por aqui provavelmente não estarei mais grávida e serei puérpera. Veremos as inspirações e reflexões que essa nova Paola irá trazer, após chegar ao topo da montanha :) .
Nos vemos do outro lado!
Se tiver alguma dica pra mim sobre todas as dúvidas e elaborações que eu trouxe nesse texto, por favor me escreva nos comentários. Vou adorar receber dicas dessa rede tão preciosa que me acompanha.
Paola, sou mamãe de 3 anjinhos, me identifico com todos os teus textos!
Daqui envio todo o amor e carinho pra vocês, e boas energias pra chegada da Felipa, saiba que tua história é uma dose de esperança!🧡
Tu está muito plena amiga, logo estaremos todos felizes com a Felipa entre nós!