#22: O fim "de luto e lutas"?
A Felipa está aqui comigo, há 5 meses ou 20 semanas já. E ela não está representada no título "De luto e lutas". Pelo contrário. Ela não é luto. Ela é vida.
Nasce uma mãe, nasce uma culpa. É o que dizem, não é? Pois bem, ando me sentindo um pouco culpada.
Descobri que estava grávida dia 31/01, há quase 4 meses.
Lancei 3 textos aqui desde então.
Todos eles assinados e abrigados dentro de "De luto e lutas: relatos de uma ex-workaholic mãe de 2 anjos", o nome deste canal que lancei faz cerca de 1 ano, no dia das mães do ano passado. Só eu (e talvez Deus) sabem o quanto ele me ajudou no meu processo, que foi sim, exatamente, de luto e lutas. Nenhum nome poderia ter transmitido melhor essa jornada.
Abrir a minha história, colocar em palavras o que aconteceu e com isso ter a chance de elaborar, pensar, refletir, foi precioso. Ao escrever eu consegui entender e processar muito melhor a minha dor. Eu consegui também registrar para a posteridade o agora de todos aqueles sentimentos, duros, mas tão belos. Confesso que hoje em dia eu tenho dificuldade de voltar e reler alguns textos, que ainda são bastante dolorosos. Mas me imagino em um futuro um pouco mais distante em que reler possa me trazer algum tipo de conforto e lembrança dos aprendizados dessa fase.
Além disso, ao mostrar a minha vulnerabilidade com pouquíssimo filtro, eu recebi de volta a vulnerabilidade dos outros. Isso incluiu muitos retornos e mensagens carinhosas de apoio, e muito compartilhamento das próprias histórias. Tanto de gente que passou por situações difíceis, mas não exatamente de perda gestacional, quanto por também mães de anjo. A cada mensagem que eu recebia dizendo "obrigada por colocar em palavras o que eu sinto", "obrigada por representar a nossa dor", "não passei exatamente por isso mas passei por dificuldades na maternidade ou no trabalho também e me identifiquei", a dor aqui diminuía um tantinho. Eu sempre quis usar esse canal para desmistificar tabus e falar abertamente dos desafios que mulheres que passam por perdas gestacionais enfrentam, uma dor comum mas ainda muito escondida na sociedade, além de falar abertamente sobre algumas hipocrisias do mercado corporativo.
Por último mas não menos importante, essa newsletter me permitiu explorar um desejo adormecido, o de ser escritora. Algo que eu vislumbrava desde a 4a série, quando a professora pediu para desenhar nossa profissão no futuro e eu me desenhei escritora, mas nunca tinha me transformado em uma. É um papel que, graças a essa news, me mostrou que veio pra ficar.
Já são quase 500 assinantes que acreditam na Paola escritora, e eu não tenho palavras pra agradecer a cada um de vocês que dedica um tempinho para me ler ou me escutar. O crescimento na base de assinantes foi devagar, mas constante, nesses últimos 12 meses. Dêem uma olhada:

(e se você ainda não é assinante, que tal virar? é gratuito e me ajuda muito)
Eu sou mesmo imensamente grata por essa trajetória de 21 textos nesse canal e por tudo que ela me trouxe.
Só que agora ela está me trazendo um pouco de culpa.
A Felipa está aqui comigo, há 5 meses ou 20 semanas já.
E ela não está representada no título "De luto e lutas". Pelo contrário. Ela não é luto. Ela é vida. E eu não quero, de maneira nenhuma, que ela apareça em um título como esse. Fico me sentindo mal pensando que esse título não faz mais sentido para a filha linda, forte e maravilhosa, que está aqui comigo hoje.
Ao mesmo tempo, eu quero sempre lembrar e honrar a trajetória até aqui. Meus dois filhos anjos sempre terão seu lugar na nossa família e jamais serão esquecidos.
E agora, José? Como conciliar tudo?
Será o fim "de luto e lutas"?
Falar de perda gestacional, luto, aborto, foi importante, muito importante, por cerca de 1 ano da minha vida, mas sinto que está na hora de me despedir um pouco desse tema para dar espaço a outro. Qual outro? Não tenho bem certeza, ainda.
O que tenho certeza é que quero seguir falando. E escrevendo. E que algumas lutas continuam, também.
Também tenho gostado muito do formato de áudio e de colocar também o meu tom de voz nos textos. Desde o texto 17 eu lanço os textos também nesse formato, o que tem sido bem divertido e revelador. O áudio me permite dar as ênfases que eu quero dar em cada palavrinha. Ao gravar, eu me escuto ainda mais. Será que explorar mais esse formato também é um caminho?
Eu ainda quero muito seguir falando de carreira, de vida profissional, de como conciliar o desejo de ser mãe, e não só uma mãe qualquer, mas uma boa mãe, com ser uma boa profissional. Quero também falar sobre como a gente pode se reinventar, e criar um caminho que seja um caminho que a gente escolha, e não que os outros escolham para ou por nós. Que seja rentável, que a gente não trabalhe de graça, mas que faça sentido, também. No momento trabalhar como executiva as a service, consultoria e mentoria tem encaixado bem, mas eu ainda preciso fazer "render" mais, honestamente.
Ainda tenho muitas dúvidas sobre como vai funcionar a minha licença maternidade e minha vida profissional pós Felipa, mas eu sei que a escrita e a comunicação honesta, transparente e muito autônoma e original, com a minha cara, vão permanecer. E nesse segundo trimestre, gostaria de elaborar melhor a forma como elas vão permanecer.
Enfim, tá tudo um pouco confuso e nebuloso, ainda. São alguns caminhos e tá difícil de escolher e priorizar.
Essa nova fase terá, se Deus quiser, menos luto, mas ainda terá luta. E tá difícil de dar um nome para ela. E como eu já falei algumas vezes, tudo que a gente não nomeia, se torna mais difícil de elaborar.
E aí, queria explorar a minha vulnerabilidade mais uma vez aqui com vocês.
Queria pedir ajuda.
Quando eu já tinha lançado cerca de 10 textos, eu fiz uma pesquisa via um formulário de feedback aqui com vocês. As respostas foram incríveis e me ajudaram muito na época. Vamos de novo?
Escrever para mim mesma é muito legal e importante, mas escrever para vocês e com vocês é ainda mais. Eu quero me manter relevante. Relevante para mim mesma. E relevante para quem me acompanha. Quero seguir unindo o útil ao agradável, escrevendo sobre temas que eu gosto mas que também ajudam os outros a pensar.
Então, me ajudem a construir o futuro deste canal, o nome desse canal, e avaliar o que pode ser interessante, para mim e para vocês?
Aqui está o formulário para isso: - é só clicar e responder e prometo que é rapidinho!
Se puderem responder até o próximo domingo, dia 2, eu ficarei muito, muito grata.
Espero vocês, de coração aberto, para ouvir críticas, sugestões e um ou outro elogio, quem, sabe, também. :)
Com amor,
Paola
Seguimos com muitas dificuldades e com cenário de guerra aqui no Rio Grande do Sul. A ajuda segue sendo muito, muito necessária, e deve o ser por muito tempo ainda.
Então, para quem quiser ajudar, segue uma lista de contas de doações que eu confio e tenho feito for aqui:
- Lions Clube | Chave Pix: lionstrescoroas@lionsld2.org.br
Lions Clube é uma conta de doação que está sendo administrada pelo meu pai, engenheiro e tesoureiro do Lions Clube de Três Coroas. Após a compra de colchões, alimentos e produtos de limpeza com as doações recebidas até agora, o foco agora é em comprar móveis para ajudar a mobiliar as casas que foram destruídas.
- Vakinha | Chave Pix: enchentes@vakinha.com.br
O Instituto Vakinha, o Pretinho Básico e o Badin Colono se juntaram para criar a maior campanha solidária do Rio Grande do Sul.
- Salva Canoas | Chave Pix: gabrieladesimon@gmail.com
É um grupo de amigos que está trabalhando ativamente, fazendo o trabalho de comprar e distribuir donativos para a população que está desabrigada ou chegando aos abrigos em Canoas, na região metropolitana, uma das cidades mais afetadas, inclusive no maior bairro da América Latina, Matias Velho, que foi completamente alagado.
- SOS RIO GRANDE DO SUL | Chave Pix: 92.958.800/0001-38
Governo do Estado do Rio Grande do Sul.
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Amiga uma coisa que eu aprendi na minha análise é que um luto não precisa terminar para uma vida começar. Lutos fazem parte da vida. Tu não usar mais a palavra luto no título não significa que ele acabou ou está esquecido, talvez mais guardado dentro do teu coração, talvez apareça numa linha ou parágrafo da tua escrita eventualmente, a palavra não precisa ser evitada, o sentimento também não, mas perdeu o protagonismo. O protagonismo agora é da Felipa! É sobre as impermanências da vida né? Que eventualmente a palavra luto ou o sentimento de luto estejam perto da Felipa não é mau presságio, de forma alguma, pelo contrário, é acreditar na potência e força da vida dela. A luta segue, nada exige mais luta do que viver!