Talvez seja pelo fato da Pipa ter completado, já, 8 meses.
Talvez seja por eu ter tido, depois de quase 2 anos, TPM, já que minha primeira menstruação pós parto deu as caras no último domingo.
Talvez seja por eu ainda ter muitos traços ansiosos, mesmo após anos de terapia psicológica e psiquiátrica.
Talvez seja por eu ter decidido dar um tempo na análise, depois de quase 8 anos em processo analítico.
Talvez seja pela baixa na imunidade, demonstrada por uma herpes que está me impedindo de beijar a minha filha há mais de uma semana.
Talvez seja pela água que começou a bater na bunda.
Talvez seja pela inconformidade que eu sinto, crescendo cada vez mais, pelo não acolhimento das mães na sociedade e no mercado de trabalho.
Talvez, na verdade, eu nem precise definir o motivo.
Mas fato é que tem dias que bate um desânimo. E na semana passada, esse desânimo bateu mais intenso por aqui.
E talvez, quem veja esse ou esse post no Instagram, que mostram o meu palco, não imagine os bastidores do que acontece por aqui. Por isso, decidi mais uma vez abrir um pouco meu backstage.
Há 2 anos tomei uma decisão consciente de trabalhar pouco, “fora”, e maternar muito, dentro. Mesmo antes da minha bebê existir, mas com a vontade que era maior que tudo que ela existisse, ela já era prioridade.
Essa decisão não deve mudar no curto ou médio prazo. Mas, ultimamente… Que saudade de ganhar dinheiro, né, minha filha?
Vivi 15 anos no mercado corporativo em uma vida CLT, e pelo menos na segunda metade dessa vida, com salários bem significativos. Esses salários me permitiram investir e acumular boa parte dessa grana, o que faz com que, hoje, junto com o apoio do meu marido, eu possa seguir levando uma vida confortável mesmo sem ter aquela entrada mensal gordinha.
Quando eu saí do meu último emprego CLT, em março de 2023, eu estava grávida e vinha de mais uma experiência frustrada, em que tinha me sido prometida uma experiência de trabalho muito mais humana e justa do que de fato foi, em mais uma empresa vista como cool e disruptiva para quem via de fora mas bastante dura e conservadora para quem estava dentro. Naquele lugar eu passei pela minha primeira perda, e segui trabalhando como se nada tivesse acontecido - por falta de firmeza e noção minhas e por falta de acolhimento e noção deles.
Logo depois da minha saída perdi meu segundo bebê e passei por meses subsequentes de um luto muito intenso.
Naquele momento, eu não tinha espaço psíquico para pensar em trabalho. Eu sabia que, por mais duro que fosse, aquele luto precisava ser vivido quase que exclusivamente (um “privilégio” que eu tive, mas que a grande maioria das mulheres que passam por perdas não tem, vale dizer).
Após cerca de 5 meses de um mini-sabático, voltei a trabalhar, mas em um formato completamente diferente: como autônoma, com consultoria e como executiva as a service da The CMOs Marketers, uma edtech focada em cursos e IA para marketing. Eu nem cogitava voltar para uma formato CLT naquele momento. Me sentia injustiçada e esgotada pela falta de humanidade dele e não via como conciliar esse tipo de trabalho com a maternidade.
Só que aí entra um fato importante: minha mudança de carreira aconteceu mais por esgotamento do que por planejamento. Eu não tive um burnout oficialmente diagnosticado, mas pensar em uma nova experiência de trabalho que me sugasse e consumisse praticamente toda a minha energia, como tinham sido as duas últimas, me pareceu impraticável. Talvez eu até pudesse encontrar um lugar que não fosse assim. Só que eu não tinha mais fôlego pra arriscar. Eu sabia que não podia mais seguir daquela forma.
Então busquei uma alternativa, mas sem muito planejamento, mais deixando acontecer do que fazendo acontecer. Era o que eu sentia que era possível naquele momento.
Depois de cerca de 5 meses desbravando esse novo modelo de trabalho, no início de 2024 descobri minha terceira gravidez. Uma gravidez que veio cheia de amor e esperança, mas também cheia de medo e ansiedade. Logo entendi que essa gestação precisava e merecia ser prioridade, e o trabalho pegou o assento de trás e só seguiu o fluxo. E esse fluxo até que deu certo.
Consegui começar a entender como poderia funcionar esse novo tipo de vida profissional.
Segui atuando como executiva as a service e comecei a trabalhar como mentora de profissionais em posição de liderança, que passavam por desafios e poderiam se beneficiar da minha expertise. Passei a adorar essa parte, inclusive. Trabalhar com pessoas e desenvolvendo pessoas já vinha sendo a minha paixão há alguns anos, e poder exercê-la quase que exclusivamente se tornou bastante interessante. Também criei a minha marca, a PZB Mentoria e Consultoria, bem bonitona, mas não a usei muito, ainda. Comecei a dar aulas de liderança e processos. As coisas foram acontecendo aos poucos, mas acontecendo.
No entanto, tinha um porém claro: eu ficava longe do nível de salário anterior. Trabalhava bem menos, em termos de horas. Então, quase que obviamente, também rendia menos.
E no trabalho que eu faço e tenho feito, super específico, elaborado e personalizado para cada empresa ou cada mentorado que confia em mim, é difícil de ganhar escala. Com isso, os ganhos são limitados.
Não acredito em fórmula mágica.
Não acredito em gurus de internet.
Acredito em um trabalho consistente, de qualidade e de longo prazo.
Em janeiro, com a Pipa com 3 meses, eu decidi voltar a trabalhar, mas devagar, devagarinho. Comecei a atender um pacote de mentorias, depois mais 2 ou 3. A trabalhar umas 5, 6h semanais.
Em fevereiro, uma pessoa começou a trabalhar aqui em casa pra nos ajudar, 3x por semana. Ela cuida da casa e faz comida e ajuda com a Pipa quando necessário também.
Segui em um ritmo mais lento até abril, e desde o mês passado resolvi (tentar) acelerar. No meu caso, acelerar devagar, ainda: a ideia é trabalhar 3 tardes, as 3 que a funcionária está por aqui, e atender mais alguns horários avulsos de mentoria no início da noite, quando meu marido pode ficar com a nossa bebê. Aos poucos, estamos conseguindo ajustar a rotina dos 3 membros da família para que, prioritariamente, a Pipa esteja bem, mas que eu e o T. também possamos trabalhar e ter alguns (poucos) momentos individuais de autocuidado e também de casal. Ainda estamos longe do ideal, mas já evoluímos.
Por enquanto, eu realmente não quero trabalhar mais que 15, no máximo 20h semanais. Quero seguir tendo as manhãs livres para a minha filha, e curtir elas de maneira lenta e não apressada. Sei o tamanho do privilégio que é isso e sei o porquê eu posso fazer isso. E sou muito grata.
Mas isso não me impede de ficar desanimada, também.
Na semana passada, eu estava realmente para baixo.
Depois de 2 anos em transição de carreira, parece que eu finalmente entendi que essa transição estava só começando. Que ela precisava de mais planejamento do que estava recebendo. E que os resultados dela ainda poderiam e provavelmente demorariam a aparecer.
Mudar de carreira não é trivial.
Mudar de carreira, se sentir realizada e ganhar dinheiro, menos ainda.
Sinto falta de não ter que esperar o cartão virar. Sinto falta do plano de saúde e do vale refeição. Sinto falta da vida corporativa, de ter um time para liderar. Sinto falta de saber quanto vou ganhar no final do mês. Sinto falta de ter um salário que vai cobrir os meus custos e da minha família. Sinto falta de poder comprar “brusinhas” e pedir um iFood sem pensar muito (coisas que talvez eu nem devesse fazer, mas pequenos luxos que eu muito fazia). Sinto falta de viajar, o programa que eu o T. mais gostamos de fazer e que, para não aumentar o rombo do orçamento, não estamos fazendo. Sinto falta de não precisar me vender tanto, algo que, mesmo como marketeira, eu ainda tenho bastante dificuldade.
E não que eu não possa voltar atrás. Talvez até pudesse. Talvez até volte. Mas não agora.
A decisão de, repito, trabalhar menos, e maternar mais, está clara e tomada. Por mim e com apoio do T. E com muitos privilégios envolvidos, reforço.
Mas as consequências dela por vezes são doloridas.
Dizem que até dá pra ter tudo. Mas não tudo ao mesmo tempo. Eu bem que queria. Mas não está dando.
Várias vezes me pego pensando que eu trabalhei tantos anos como uma condenada para agora estar com a minha filha no colo e não ter uma licença maternidade ou um salário que ajude a bancá-la. Acho que isso que que eu martelei e que me pegou muito semana passada. De certa forma, eu não esperava e não queria chegar no meu momento tão sonhado (e suado!) de ser mãe e estar nesse lugar tão instável financeiramente. Mas aí lembro que foi esse lugar, essas condições, que me trouxeram a minha filha, e isso eu não mudaria por nada.
Felipa tem 8 meses. Desde os 6, talvez pela relação cultural com uma hipotética licença, me sinto mais pressionada, por mim mesma, a “voltar".
Só que, hoje, eu não tenho um emprego para onde voltar.
Eu preciso criar esse “emprego”, essa nova realidade profissional, em um país em que a) modelos de trabalho tradicionais predominam e o part-time praticamente não existe; b) tudo está cada vez mais caro e para se ter uma vida minimamente confortável é preciso vários salários mínimos; c) a realidade e o contexto dos millennials e das pessoas da minha geração fica cada vez mais dura do que, em geral, nossos pais enfrentaram. Ao mesmo tempo, preciso descobrir em quem eu sou, agora com a etiqueta de mãe, e quem a Pipa é como filha.
Dizem que virar mãe é a maior mudança de identidade que passamos ao longo da vida. Eu passo por ela enquanto busco uma nova identidade profissional, também.
Não tem sido fácil encontrar energia, foco e determinação para as duas coisas ao mesmo tempo. Só que isso já se arrasta há um tempo, desde a segunda perda, passando pela terceira gestação… Minha sensação é que estou há um bom tempo usando esse mesmo discurso comigo mesma.
Em vários momentos busco e consigo ser gentil comigo. Entendo que estou fazendo o que é possível, respeitando (e amando muito!) a prioridade definida, a minha filha.
Em outros, não consigo. Me julgo, me debato, me questiono e me culpo por não conseguir evoluir mais rápido.
Maternar como ocupação principal, após 8 meses, é um grande privilégio.
Mas, nesse processo, tem uma parte que satisfaz e uma parte que frustra. É lindo poder acordar com calma com a minha filha, dar o mamá quando ela pedir, brincar, ler, passear de carrinho em dias de sol e poder estar verdadeiramente presente, sem me preocupar se alguém está me chamando no Slack ou no whatsapp com alguma demanda que eu precise endereçar, mas também é frustrante pensar na parte financeira e em tudo que abri mão para isso.
Acho que eu preciso mesmo, de um pouco mais de planejamento para tornar a PZB Mentoria e Consultoria, minha empresa de uma mulher só (por enquanto, oremos!), uma empresa que comece a render um pouco mais. Já não me sinto esgotada como há 2 anos atrás. A maternidade, vejam bem, não me esgota. Eu durmo bem porque a Pipa dorme bem (bate na madeira rsrs). Minha chefa é gentil e amorosa, e acho que tem aceitado bem eu ter outra ocupação além de cuidar dela.
Quem me acompanha nas redes pode achar que eu estou realizada como mãe. E eu estou. Mas eu não estou só realizada. A vida tem muitas camadas, e depende da gente explorar e entender mais ou menos cada uma.
Existem muito mais perguntas sobre como resolver essa equação, como conseguir criar a nova realidade que eu quero, para mim e para a minha família, do que respostas. Mas percebo que toda vez que eu falo ou escrevo sobre, que eu passo um tempo planejando ou pensando sobre a PZB Mentoria e Consultoria, eu me acalmo e me fortaleço, de alguma forma.
Acho que me resta acreditar em uma frase que eu mesma repito muito, mas às vezes esqueço: o caminho se faz ao caminhar. Nos dias de desânimo, seguir caminhando. Talvez mais devagar. Mas não parar. E nunca esquecer de honrar o caminho já caminhado.
E você? Alguma ideia ou sugestão pra mim?
Repertório PZB
Dessa vez, me limito a trazer dois textos que saíram essa semana, de grandes colegas escritores aqui do Substack, que trazem também um ângulo sobre tudo isso:
Quando o corpo pede sombra e o mundo exige resultados - O Rodrigo Figueira trouxe um olhar sobre como a liderança corporativa está doente, e cada vez mais tóxica (infelizmente os dados mostram isso).. E como às vezes tudo que a gente precisa é de paz. Leia #13 - Que tempos, os nossos!
Talvez seja hora de aceitar que, se o pote de ouro ainda não apareceu, talvez ele não esteja do outro lado de mais um burnout. A Verbena Cartaxo trouxe mais uma reflexão potente sobre processos, e uma provocação sobre a passividade que, confesso, eu nunca tinha pensado. Li esse texto no início da semana, quando estava bastante angustiada, e ele foi como um bálsamo que ajudou a acalmar - e parece que esse era o objetivo da Verbena. Leia O passo desapressado da passividade.
Relembro também que no meu último texto eu falei sobre leitura e dei várias indicações de livros e de newsletters também. Se não leu, que tal conferir e talvez se inspirar pra ler um pouquinho mais nesse final de semana?
Se quiser me acompanhar com mais frequência e ver fotos de uma bebê muito fofa, fique super à vontade pra seguir também no Instagram no @paolazbehs.
Se quiser conhecer minhas mentorias de liderança e de marketing, acesse meu perfil na e-mentor ou me mande uma mensagem. A agenda está aberta!
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Paolinha! O caminho racional parece não ter erros, mas para trilhar precisa equilibrar as tuas emoções. Parece que o que tu estás sentindo vem do teu emocional, que precisa ser constantemente domado pelo racional.
Persistir com correções de rota deve ser o caminho.
Um beijo!
Cheguei pelo restack da Pri Tescaro e só queria te dar um abraço de mãe para mãe, dizer que de certa forma estamos todas navegando nos mesmos mares e que com o passar do tempo dá para ter mais equilíbrio em todos estes papéis, inclusive o do faturamento com nosso trabalho independente. Mesmo assim vai haver dias de desânimo, mas eles costumam preceder dias de muita criatividade e otimismo! ❤️