#30: Relato de parto do meu arco-íris
A cesárea era inevitável, mas eu queria entrar em trabalho de parto. Achava que, assim, o caminho seria mais natural e gentil para ti, Pipa.
"Então, filha, queria te dizer que, se tu estiveres pronta, a mamãe e o papai também estão. Quem sabe tu poderias vir amanhã, em uma manhã de domingo, como diz aquela música famosa, Anunciação, que inclusive a mamãe usou ontem, em um vídeo de retrospectiva da gestação que eu postei.
A voz do anjo sussurrou no meu ouvido
Eu não duvido, já escuto os teus sinais
Que tu virias numa manhã de domingo
Eu te anuncio nos sinos das catedrais
Há quanto tempo te anuncio, né, filha? Eu sempre acreditei que tu virias.
Tenho tido desde as 37 semanas algumas contrações de treinamento, mas nada demais. 2 dias atrás saiu leite de um dos meus seios durante o banho, o que me emocionou pois eu quero muito te amamentar no meu peito, e acho que esse foi um bom sinal nesse sentido.
Papai e mamãe estão tranquilos em casa nesse final de semana, ajustando detalhes finais para te receber. Como te disse, estamos prontos se tu quiseres vir, já. Se não, nos vemos dia 08, meu amor! Independente da data, sei que a tua chegada será o momento mais lindo das nossas vidas. Vem filha, tem muito, muito amor aqui pra ti".
Do dia 05/10/2024, esse é um trecho das cartas que eu fiz pra ti, minha filha Felipa, semana a semana durante a gestação.
As cartas são só nossas, feitas especialmente pra ti para que tu possas ler no futuro e saber como foi esse processo de 9 meses para a tua chegada, só que hoje resolvi abrir uma delas, para contar dessa vez não só para ti, mas para toda a nossa torcida como foi o teu nascimento. Tem muita gente querida e curiosa me pedindo o famoso "relato de parto". Então resolvi trazer ele pra cá, para a minha newsletter, espaço que a mamãe escreve desde a perda da tua segunda irmãzinha, em maio do ano passado, e que muito me ajudou a ressignificar o processo de luto e lutas até a tua chegada.
Só que demorei um pouco pra conseguir parar e escrever, pois, como eu brinco, a minha nova chefinha, tu, filha, é bem exigente!! Mais de 3 semanas depois da tua chegada, só agora que consegui parar na frente do computador para começar a escrever. E suspeito que não vou conseguir terminar hoje. Mas tudo bem, meu amor. A vida tem outro ritmo desde a tua chegada. E estamos eu, tu e o papai nos adaptando a ele.
Vamos lá, então?
Tínhamos a cesárea agendada para dia 08/10, uma terça-feira, às 10h. Ao longo da vida, eu sempre me imaginava tendo filhos de parto normal e passando por toda aquela experiência, mas como o processo até aqui foi duro e nada linear, a via de parto se tornou secundária. Eu só queria parir meu bebê com saúde, do jeito que fosse (e no meu último texto, eu expliquei em mais detalhes o porquê da cesárea).
O papai queria que tu nascesse nessa data, com tudo organizado e em um ambiente mais controlado, como ele gosta rsrs.
A mamãe, apesar de também ser fã de boas doses de controle, já preferia outro caminho. A cesárea era inevitável, mas eu queria muito que ela acontecesse em um momento que fosse uma vontade tua, não um agendamento cirúrgico.
Eu queria entrar em trabalho de parto. Achava que, assim, o caminho seria mais natural e gentil para ti, Pipa. Tu sairia dentro de mim no momento da tua escolha, não seria "despejada" no susto, sem aviso prévio.
E que alegria, assim foi!
Para facilitar o caminho, eu comecei a conversar contigo, te explicando que tu poderias vir, que estávamos prontos, como expliquei na carta do dia 05/10. Acho que tu me escutou, porque tu foi nascer cerca de 24h depois de eu escrevê-la.
Passamos o teu último dia na barriga, um sábado, relaxando. De manhã, além da mamãe escrever a carta, o papai entrou em um surto de arrumar gavetas e armários principalmente na cozinha. Ele adora organização e queria deixar tudo o mais otimizado possível, no nosso espaço e dia a dia, para tua chegada. Mamãe, já com dificuldades de se movimentar pelo barrigão, não pode ajudar muito, mas se divertiu acompanhando de longe.
Estava um sábado lindo de sol e temperatura agradável. Saímos para almoçar no Shopping Pontal, na beira do Guaíba. Eu ainda postei uma foto dizendo "saindo para talvez o último rolê antes da chegada da Pipa" - acho que já estava sentindo que seria!
Voltamos para casa, relaxamos mais um pouco. À noite o papai fez uma jantinha bem saudável pra nós - peixe e legumes (já saiba que o papai é quem mais comanda as panelas aqui em casa e tenho certeza que tu vai adorar comer a comidinha dele um pouco mais pra frente). Depois, olhamos um episódio da série "A amiga genial", que estávamos assistindo - o último episódio em um bom tempo rsrs. E nesse momento, tu te mexia muito, mais que o normal.. Fiquei pensando se tu estavas te preparando…
Fomos dormir pelas 23:30.
Perto da 1h da manhã do dia 06/10, domingo, acordei achando que talvez estivesse fazendo xixi nas calças. Tinha bebido bastante água, tomado chá antes de dormir.. Como a gestação toda eu acordei muito à noite para fazer xixi, achei que talvez pudesse não ter aguentado nessa reta final e molhado a cama… rsrs.
Mas levantei e vi que a cama não estava molhada, apenas a calcinha. E de um líquido bem transparente. Aí comecei a desconfiar que a bolsa pudesse ter rompido. Como inicialmente não foi como a gente costuma ver nos filmes, aquele "chuá" de água saindo um monte de uma vez, a dúvida era legítima. Chamei o papai: "Amor, minha calcinha tá bem molhada, tô em dúvida se pode ser a bolsa, vem ver".. Papai ficou em dúvida também. Ficamos uns 10 minutos especulando entre nós se era a bolsa ou xixi, com receio de ligar para nossa obstetra, acordá-la na madrugada e passar vergonha com uma mãe que fez xixi na cama rsrs. Só que enquanto discutíamos veio mais um jato. Aí achamos que provavelmente era a bolsa mesmo. Liguei para a Dra Tiane no viva voz, em pé, no quarto, explicando a situação. Enquanto falava, mais um. Praticamente não havia mais dúvida e ela nos instruiu a irmos ao hospital.
Demoramos uns 45 minutos para nos organizarmos para sair. Já estávamos com tudo pronto, só faltando alguns detalhes: pegar necessaire, trocar de roupa, tirar jóias.. Eu estava meio pateta e fazia tudo muito devagar. Coloquei um absorvente para conter a água, caso saísse mais, e não tinha outros sintomas, ainda. Papai tomou um cafezinho, que ele adora, para encarar a madrugada. Ligamos para os avós, titios e dindos, e avisamos que estávamos indo para o hospital, para que eles se organizassem para vir e também te receber.
Na saída, tiramos uma foto no espelho do prédio, nossa última, de várias, durante a gestação.
Ao chegarmos no hospital, cerca de 2h da manhã, falei para a enfermeira que nos recebeu que ficamos em dúvida se tinha mesmo rompido a bolsa, pois não tinha sido um volume muito grande de água. Mas aí, logo que deitei na maca, veio um chuá de verdade que molhou tudo. A enfermeira disse "é, agora vocês só saem daqui com bebê no colo".
Já me emocionei ao pensar isso.
Depois disso, veio a médica do plantão nos recepcionar, e tivemos uma grata surpresa: a médica era a mesma que nos recebeu em um momento muito triste, dia 10/05/2023, e fez nossa segunda AMIU (aspiração manual intra-uterina), para retirada do nosso segundo bebê sem vida. Além disso, ela tinha sido minha vizinha por anos, quando morava com a minha irmã, mas há muito tempo não tínhamos mais contato. Nos reencontrarmos naquela situação difícil ano passado foi bem triste. Dessa vez, ao ver que era ela novamente, eu logo disse "Camila, voltamos em um momento bem mais feliz". Ela também pareceu ficar feliz por nós, e foi ela que, ao fazer um exame, confirmou oficialmente que a bolsa havia mesmo rompido, e que também viu que eu não tinha dilatação.
Ela disse que iria ligar para a minha obstetra e explicar a situação para definirem os próximos passos. Comentou que talvez teríamos que fazer a cesárea logo, pois tu estavas na posição pélvica, sentadinha, o que poderia ser um pouco mais arriscado caso o trabalho de parto evoluísse logo. Eu fiquei um pouco tensa com essa informação, pois fiquei com receio da família não conseguir chegar - estavam todos a 1h / 1h30 de distância, em Três Coroas ou na praia. A mamãe queria que o aquário do hospital, a área emblemática onde os bebês são apresentados no Hospital Moinhos de Vento em Porto Alegre, estivesse lotado pra te conhecer, filha. Então, pedi para a Dra Camila que se desse pra esperar, nós esperaríamos - claro, se tivéssemos segurança nisso.
Ela saiu para fazer a ligação e ficamos eu e o papai esperando, ansiosos para saber quando te conheceríamos. Mamãe ficou sendo monitorada, com o sonar que havia sido colocado para escutarmos teus batimentos. Teu coraçãozinho batia forte.. Será que tu estava ansiosa também, amor da mamãe?
A médica voltou e disse que a cesárea tinha ficado agendada para às 6h, para dar o meu tempo de jejum, recomendado nesses casos. Nisso já eram cerca de 3h da manhã. E eu pensei: o que são mais 3h de espera pra quem esperou 2 anos pra ver meu tão sonhado bebê nascer?
o que são mais 3h de espera pra quem esperou 2 anos pra ver meu tão sonhado bebê nascer?
Nos transferiram para outra sala, um pouco mais confortável. Me recomendaram descansar. Claro que não consegui rsrsrs. Era uma emoção, uma excitação em saber que a hora estava chegando.



Pouco depois, comecei a sentir contrações, algo que eu também desejava. Queria saber como era aquela sensação, tão falada e tão temida, em um momento feliz. Eu já tinha tido contrações muito dolorosas (a ponto de precisar tomar morfina), provocadas pelo remédio indutor das AMIUs nas minhas duas perdas, então já entendia um pouco como funcionava. Já tinha sofrido muito com as contrações em um momento tristíssimo. Agora queria senti-las de outra forma.
Elas não foram muito fortes e não chegaram a ser ritmadas, mas já me deram uma ideia de como funciona pelo menos o início de um trabalho de parto feliz.
Aquelas 3h passaram voando. Na verdade, eu nem lembro bem como passaram. Acho que eu estava meio aérea, sem compreender de fato a dimensão do que estava acontecendo. Já o papai estava um pouco mais nervoso, tanto que usou bastante o banheiro da nossa sala de espera rsrsrs.
Em torno das 5h chegaram a obstetra, a anestesista e também o fotógrafo. Todos conversaram um pouco conosco e explicaram como funcionaria o processo, de maneira leve e tranquila. Resolvemos contratar foto e vídeo profissionais para o momento pois queríamos curtir cada segundinho dele, registrando ele nas nossas memórias mais lindas, sem nos preocuparmos com nós mesmos tendo que fazer isso. Queríamos muito ter esse material para te mostrar no futuro também, filha.
Quando chegou a hora de ir pra sala de parto, eu fui caminhando, com uma cara de boba - você vai poder ver essa cara no vídeo gravado (e pra quem está lendo e não viu, pode ver aqui). Como eu tinha passado por 4 procedimentos cirúrgicos difíceis e tristes nesse processo de busca pela maternidade (2 AMIUs, 1 histeroscopia e 1 miomectomia), eu sentia que agora seria fácil. Era o primeiro procedimento que eu estava feliz e leve.
O primeiro passo era o preparo e a anestesia.
Tirando o fotógrafo e o pediatra, toda a equipe que trabalhou na cesárea eram mulheres - duas gineco-obstetras, uma anestesista, uma enfermeira e mais algumas técnicas. E aí, nesse momento de preparo, ficamos só nós, mulheres, na sala. Nem o papai pode ficar. Eu olhei aquilo e senti toda a potência que estava ali. Mulheres competentes e acolhedoras dedicadas a te trazer ao mundo com toda saúde e segurança possível, filha.


Pouco depois da anestesia foi o único momento tenso e inesperado do processo.
De repente eu fiquei muito, muito angustiada.
Todos os outros procedimentos que eu havia feito nessa luta foram com anestesia geral. Eu nunca tinha feito nada dessa magnitude com anestesia local. E acho que não tinha parado pra pensar em como isso funcionava na prática.
A anestesista havia me explicado que algumas pessoas ficam angustiadas por não sentirem as pernas mexerem. Logo depois eu me incluí nesse grupo rsrs. É uma sensação muito estranha, como se a gente tivesse flutuando "presa". Dá uma ânsia pra mexer as pernas, tu tenta e nada acontece. Parece algo simples, mas que na hora mexeu muito comigo e que talvez tenha sido só o gatilho da ansiedade que o momento todo gerava.
Fiquei com muito medo de ter ali um ataque de pânico, de talvez partirem para anestesia geral por isso e assim eu não poderia acompanhar teu nascimento, filha. Como eu tive alguns episódios de pânico ano passado, eu sabia como eles funcionavam. E a sensação que eu tive era muito parecida.
A equipe na sala queria saber o que eu estava sentido. Na hora, acho que consegui racionalizar e confesso que acabei omitindo essa sensação de pânico, com receio das consequências.. Nossa obstetra, Dra Tiane, muito sensível, resolveu antecipar a entrada do papai na sala, pediu pra que ele entrasse pra conversar comigo e pra colocar as músicas da nossa playlist pra ver se ajudava. Ajudou. Ele, como sempre, segurou minha mão e me fez me sentir mais segura (aliás, filha, vale dizer: no futuro tu vai poder contar muito com o papai pra isso, sempre que tu precisar). Além disso, elas correram pra conseguir começar logo o processo. Dra Tiane afirmou: "pode ter certeza que quando a Felipa estiver no colo toda essa angústia vai passar".
Sensata ela. Foi o que aconteceu.
Aos poucos o pior passou e alguns minutos depois começaram a fazer uma contagem regressiva, nos avisando "agora faltam só uns 3 minutos", "só mais um minutinho".
Às 06:47 da manhã de domingo, a angústia cessou completamente. O mundo parou pra nós. Ao som da música preferida da mamãe na playlist, "el día que estrenaste el mundo", de um dos músicos preferidos da mamãe e do papai, Jorge Drexler, tu nasceu, meu amor. Nosso bebê arco-íris!
Logo escutei a Dra Tiane falando "é uma alemoa!" e tu veio pro meu colo.
Papai e eu ficamos te olhando, embasbacados. Tu nasceu linda e totalmente saudável, filha, com Apgar 9/10. Papai cortou o teu cordão umbilical e a ligação física que nós tivemos por quase 10 meses, para inaugurar uma nova vida de ainda mais conexão aqui fora.






O pediatra só te pegou para ver teus primeiros sinais e te devolveu pra nós.
Enquanto as médicas terminavam a cirurgia, retirando a placenta e costurando a mamãe, ficamos infinitos minutos ali, nós 3. Os primeiros momentos da nossa família. Nossa golden hour. Nosso topo da montanha.
Papai e mamãe choraram ao chegar lá. Tu também chorou, baixinho, logo que saiu da barriga. No meu colo, se acalmou, deixando a mamãe (ainda mais) boba.
Tu estava com soninho, mas tentava abrir os olhos e nos olhar.. e nós ali, hipnotizados por ti.
Algumas mães dizem que não sentem aquele amor enorme logo que os filhos nascem. Entendo e respeito isso e acho que todos os sentimentos são válidos nesse processo. A confusão mental é grande, os hormônios estão uma loucura, estamos ainda conhecendo nossos bebês. Mas, para mim, tenho que te dizer, Pipa, que foi amor à primeira vista. Um amor muito grande me invadiu, desde às 06:47 da manhã de domingo dia 06/10. Com o papai foi bem parecido - ele que sempre ficava sério em todas as fotos, agora abre um sorriso de orelha a orelha, cheio de dentes, a cada foto contigo!



Depois disso, o pediatra teve que te levar pra te pesar e medir, confirmando a bebezona que já sabíamos que tu serias: 3,680kg e 51cm. Papai foi junto.






Em seguida nos preparamos para a tua apresentação. Tu veio na maca com a mamãe e descemos um andar para o aquário. Ali, mamãe conseguiu espiar toda a torcida que te esperava - vovô Álvaro, vovó Lisia, vovó Sandra, primos Inácio e Miguel (os mais ansiosos), dindas Gabi, Lu e Emy e dindos Vini, Mate e Wallau e os titos Juliano e Jaqueline, todos muito emocionados com a tua chegada.
O papai te pegou no colo e teve o seu momento Rei Leão, te levando todo orgulhoso para o pessoal te ver. Juntos, vocês fizeram toda uma performance para a galera: posaram pra fotos, fizeram as primeiras vacinas e colocaram a primeira roupinha: um macacão que o papai tinha comprado na nossa primeira gestação, a primeira roupinha de bebê que já entrou na nossa casa; e um body com gola escrito Felipa com arco-íris, presente da Dinda Gabi. Tudo cheio de significado e bem pensado, como tudo nesse nosso processo.






Depois, tu voltou para a mamãe, que te aguardava na sala de recuperação, e ali teve a sua primeira mamada! Ao ser colocada no peito, logo sugou.. Mamãe ficou orgulhosa de ti, filha, e logo disse que tu já nasceu esperta e sabendo mamar.. Em um primeiro momento, pareceu até que a amamentação seria fácil e fluiria bem.. Ledo engano.. Mas isso é papo pra outro texto!



Filha, a tua chegada foi perfeita, como tu. Tu escolheu a data e o momento certo para vir!
No texto anterior, eu falei sobre estar avistando o topo da montanha.. Pois bem, agora chegamos nele e ainda encontramos o pote de ouro do arco-íris! E é inevitável não apelarmos para clichês e olharmos para trás pensando em todo o processo até chegar nesse topo.
Ao escrever essa carta, eu voltei em alguns textos anteriores, de cerca de 1 ano atrás, em que eu falava do diagnóstico dos motivos de perdas (se quiser ler, veja esses textos aqui: #6: Enfim um diagnóstico (ou não)/ #8: Não confunda esperança com esperar / #9. Primeiro eu tive que morrer ) e contava sobre a miomectomia, a cirurgia de retirada do mioma, aquele inquilino indesejado.. Foi uma cirurgia muito difícil, que eu passei muita angústia e medo.. Mas que foi importantíssima para chegarmos até aqui. E aí, relendo o texto #9, me deparei com esse parágrafo aqui:
"E ali, naquele quarto de hospital, eu confirmei o que tinha sentido 2 dias antes: primeiro eu tive que morrer. Não eu inteira. Mas parte de mim sim.
Talvez eu esteja também me antecipando. Usar o "tive" parece que significa que eu já cheguei em um futuro em que sim, tudo deu certo, que pra mim significa parir um bebê saudável. Ainda assim, estou buscando cada vez mais vibrar na fé e menos no medo. Acreditar que esse momento vai chegar. Manifestar os meus desejos para o universo".
A verdade é que eu sempre tive medo, filha. Medo de não conseguir. Medo que tu nunca chegasse. Mas, ainda bem, a fé sempre foi maior que o medo. Eu não conseguia imaginar uma vida sem ti. Eu sabia que eu e o papai faríamos tudo pra que tu chegasse. E eu tinha fé que assim daria certo.
Dia 06/10/24 finalmente deu certo, meu amor. Obrigada por nos escolher, por escolher a tua data e o teu momento. Nós vencemos! Como eu escrevi nesse post no IG**,
Vencemos a gestação de alto risco;
Vencemos a trombofilia SAAF (síndrome do anticorpo fosfolipídio), com mais de 250 dias tomando dolorosas injeções de anti-coagulante;
Vencemos 5 cirurgias e pós operatórios - 2 AMIUs (curetagens), 1 histeroscopia, 1 miomectomia e 1 cesárea;
Vencemos um mioma - um inquilino que atrapalhava o crescimento dos meus bebês;
Vencemos o risco de restrição de crescimento - e esse superamos bem, com uma bebê no percentil 90 e nascendo com 51cm e 3.680kg;
Vencemos o risco de diabetes gestacional, ficando 9 meses sem consumir nada de açúcar;
Vencemos as crises de pânico;
Vencemos os medos, os traumas, as angústias.
Vencemos porque tivemos fé.
Vencemos porque tivemos ajuda**.
Torcida.
Amor.
Chegamos ao topo da montanha. E a vista é linda aqui de cima!
A mamãe foi transformada por esse processo de 2 anos até a tua chegada, mas algo me diz que a maior transformação ainda está por vir, a matrescência, o se transformar, efetivamente, em mãe.. E o puerpério já está me mostrando isso (e aguarde, pois ainda falaremos muito dele).
Agora estamos juntas aqui fora, e temos uma nova montanha a escalar. Juntas e acompanhadas do papai.
Vamos?
*esse texto foi escrito ao longo de 2 semanas, conforme nossa nova vida permitiu, e terminado no dia que a Felipa completou 1 mês, dia 06/11. Achei poético.
**nesse post no IG eu marquei e indiquei todos os profissionais que fizeram parte da nossa luta e contribuíram para a chegada da Felipa. Agradeço demais e indico todos de olhos fechados.
***as fotos desse texto e do nascimento foram tiradas pelo Estudio Rossoni.
Todo lo fotografiamos
Minuciosamente registramos
Nuestras vidas al segundo
Pero no me quejo
Porque acabo de encontrar aquella foto
Del día en que estrenaste el mundo, oh, oh, mmm
El día en que estrenaste el mundo, oh, oh, oh, oh
Yo con cara de sueño y de sueños
Tú en mis brazos
La primera foto
Mis ojos a medio camino del mar
Y del maremoto
Paseará por pantallas y marcos
Aquella imagen
Primera de miles
Llevando mis sueños, mis miedos, tu voz
Mi talón de Aquiles
Un buen día las velas tiritan
Las aguas se agitan
La mar se hace brava
Y tu amor se hace mucho mayor
De lo que antes pensabas
Cuando entiendas que tuyo es el mundo
Y sigas tu rumbo
De ave de paso
Buscaré aquella foto en que aprendo a ser padre
Teniéndote en brazos
Todo lo fotografiamos
Minuciosamente registramos
Nuestras vidas al segundo
Pero no me quejo
Porque acabo de encontrar aquella foto
Del día en que estrenaste el mundo, oh, oh, oh, oh
El día en que estrenaste el mundo, oh, oh, oh, oh
El día en que estrenaste el mundo, oh
El día en que estrenaste el mundo, oh, oh, oh, oh
El día en que estrenaste el mundo, oh, oh, oh, oh
El día en que estrenaste el mundo
(El Día Que Estrenaste el Mundo - canção de Jorge Drexler. A música do nascimento. Se quiserem escutar, aqui está a playlist do nascimento caso alguma mamãe por aí esteja procurando inspirações).
Lindo texto Paolinha! Muito bem construído, mas, acima de tudo, transborda toda a emoção vivida. Vovô muito orgulhoso por ti, pelo Thiago e, principalmente, pela Felipa!
Estava esperando por esse texto, adorei que veio com vários detalhes. Sorri e me emocionei imaginando as cenas. Estou mt feliz por vcs! ❤️❤️❤️